terça-feira, 8 de julho de 2008

Editorial


Muitos são os acontecimentos e as curiosidades do marcante ano de 1968, o qual teve repercussões nos anos procedentes. Dentre elas, podem ser citados manifestações políticas, nacionais e internacionais; culturais, referentes á moda, música, estilos de vida; sociais, tais como novas filosofias de vida; esportivas, tecnológicas, médicas, etc.
Das muitas agitações políticas, algumas que ganharam grande destaque foi, no cenário nacional, o AI5(Ato Institucional nº5), assinado em 13 de dezembro de 1968, o qual foi um instrumento utilizado pelos militares para aumentar os poderes do presidente e permitir a repressão e da perseguição das oposições. Já no cenário internacional, um dos acontecimentos mais marcantes foi a Primavera de Praga, tendo como palco a Tchecoslováquia, foi liderada por intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco e tinha por objetivo promover grandes mudanças na estrutura política, econômica e social do país.
No aspecto cultural, houve mudanças radicais, no cenário brasileiro, surgiu o Tropicalismo, também conhecido como Tropicália. Tal movimento nasceu sob influência das correntes da vanguarda artística e da cultura nacionais e estrangeiras (como o pop-rock e a poesia concreta) e mesclou manifestações tradicionais da cultura do Brasil a inovações estéticas radicais. Tinha objetivos sociais e políticos, mas principalmente comportamentais, que ecoaram pela sociedade no final da década de 1960. Apresentou-se, na música, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e Tom Zé, entretanto, teve manifestações nas artes plásticas, no cinema, influenciando o cinema novo de Glauber Rocha e no teatro, sobretudo nas peças anárquicas de José Celso Martines Corrêa.
No que se diz respeito à moda, ocorreu uma revolução a partir dos movimentos hippies. Os padrões da época foram quebrados, dando lugar ao despojamento, informalidade e recortes mais arrojados. A moda praia também se distanciou dos antigos modelos, sendo cada vez menores, mais chamativos e com designs ousados.
As olimpíadas de 1968, sediadas na Cidade do México, entre os dias 12 a 27 de outubro, foram o marco no setor esportivo desse mesmo ano. Nela participaram 112 países, 4750 homens e 780 mulheres divididos entre 20 modalidades. E, apesar de o Brasil ter enviado vários atletas, trouxemos para casa apenas três medalhas, uma de prata, no atletismo com o salto triplo e duas de bronze, no boxe peso mosca e uma na vela na modalidade Flying Dutchamn.
Na área de saúde, o ano de 1968 foi um marco, pelo qual o cirurgião brasileiro Euryclides Zerbini e sua equipe realizaram o primeiro transplante cardíaco da América Latina e no mesmo ano, foi instalado em Goiânia o Instituto de Patologia Tropical da Universidade Federal de Goiás.
Tais assuntos e seus respectivos detalhes serão abordados de forma clara e objetiva nesta edição especial. E, para isso, contamos com as competências de nossos redatores Caio Porto, Gabriela Sciulli, Patrícia Torricilia, Priscilla Landriscina e Tatiana Sasaya.
Esperamos, portanto que nossos caros leitores apreciem a leitura.


Patricia Torricilia

O ano que não acabou

“Havia um ar estranho: a revolução inesperada arrastara o adversário, tudo era permitido, a felicidade coletiva era desenfreada.”Antonio Negri

1968 foi o ano mais enigmático e louco no século XX. Ninguém o pôde prevenir e foram pouquíssimos os quais participaram dele que entenderam o seu desfecho. Deu-se uma espécie de furacão humano, generalizando todas as insatisfações juvenis, que arrasou o mundo em todas as possíveis direções. Seu único antepassado foi o ano de 1848 quando uma maré revolucionária – “A Primavera dos Povos” -, iniciada em Paris, espalhou-se por praticamente todas as capitais e grandes cidades da Europa, chegando até Recife no Brasil.
Tamanha foi à complexidade dos acontecimentos de tal ano, que até mesmo o filósofo Jean-Paul Sartre, o qual vivenciou 1968, confessou que mesmo pensando constantemente no assunto, não conseguira entender o propósito de tal revolução.
Essa extrema dificuldade de interpretar os acontecimentos daquele ano não se deve apenas à multiplicidade do movimento, mas sim da ambigüidade do seu resultado final. O mix de festa e revolta juntamente com os combates de rua entre estudantes, operários e militares, fez com que alguns como C. Castoriaditis, o visse como “uma revolta comunitária” enquanto que para Gilles Lipoyetsky e outros era “a reivindicação de um novo individualismo”.
Acabou tornando-se um ano mítico, pois foi o ponto de partida para uma série de transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, as quais afetaram as sociedades da época de maneira irreversível. Foi também o marco para a iniciação dos movimentos ecologistas, feministas, das organizações não governamentais (ONGS) e dos defensores das minorias e dos direitos humanos. Porém, apesar disso, também teve efeitos contrários, como por exemplo, levar várias pessoas à frustração total com a humanidade, uma vez que a não realização dos sonhos fez com que parte da juventude militante, ao não alcançar seus objetivos, fossem se refugiar no consumo de drogas ou na violência da guerrilha ou do terrorismo urbano.
Podemos dizer também que foi uma reação extremada da juventude, às repressões de mais de vinte anos de Guerra Fria, uma rejeição aos processos de manipulação da opinião pública por meio das mídias que atuavam como “aparelhos ideológicos” incutindo os valores do capitalismo e, simultaneamente, um repúdio “ao socialismo real”, ao marxismo oficial e ortodoxo, imposto no leste Europeu, e entre os PCs europeus ocidentais, vistos como ultrapassados.
É possível até assemelhar-se esse ano a um caleidoscópio, no qual para qualquer lado em que se girasse, novas formas e novas expressões surgiriam. Foi uma espécie de fissão nuclear espontânea que abalou as instituições e regimes. Uma revolução que não se socorreu de tiros e nem bombas, mas de pichação, das pedradas, das reuniões em massa, do auto-falante e de muita irreverência. Tudo o que parecia sólido desmanchou-se no ar.


Patrícia Torricilia

Quentinhas de 68

Em fevereiro, cansados da fama, os Beatles, cercados de amigos, buscam paz de espírito no Ganges, Índia, com o guru Maharishi Mahesh Yogi.

Em 17 de abril, o governo militar brasileiro decreta o fim de eleições diretas para prefeito em 68 cidades de "segurança nacional", inclusive as capitais estaduais.

No dia 4 de abril, o líder da campanha pacífica dos direitos civis nos EUA, Martin Luther King, é morto a tiros na sacada de seu quarto, no segundo andar do Motel Lorraine em Memphis, Tennessee. A morte de Luther King enfurece os negros do país, desencadeando uma onda de conflitos em várias cidades.

Em 15 de abril, a esperança ilumina o rosto das pessoas, é a Primavera em Praga. Os estudantes comemoram as medidas moderadas do líder do Partido Comunista, Alexander Dubcek, que acredita ser possível conciliar o marxismo com a liberdade pessoal. Os tchecos tentam reescrever a história.

Em abril, no Teatro Biltmore, em Nova York, estréia "Hair", o primeiro grande musical de rock, dando voz à era dos hippies nos palcos da Broadway em um tributo à paz e ao amor livre.

Jacqueline Kennedy casa-se, em 20 de outubro, na ilha de Skorpios, com Aristóteles Onassis, magnata dono de uma frota de petroleiro.

O estudante José Guimarães morre, em 4 de outubro, em confronto entre alunos da Faculdade de Filosofia da Usp e alunos da Universidade Mackenzie, no centro de São Paulo.


Em 22 de novembro, o governo brasileiro cria o Conselho Superior de Censura.

O ministro da Justiça do Brasil, Luís Antônio da Gama e Silva, anuncia, em 13 de dezembro, em cadeia nacional de rádio e televisão, a edição do Ato Institucional nº 5 e do Ato Complementar nº 38, que decreta o recesso do Congresso Nacional. Agora, o governo passa a ter poderes absolutos sobre a nação. Com o recesso, o Executivo fica autorizado a legislar, suspender os direitos políticos de qualquer cidadão e cassar mandatos parlamentares.


Em 6 de novembro, Richard Milhous Nixon é eleito presidente dos EUA.

Nesse ano, a atriz Jane Fonda é "Barbarella", a heroína espacial de Roger Vadim.

Acontece também a primeira exposição individual em museus europeus do artista pop Andy Warhol, no Moderna Museet, em Estocolmo, na Suécia.

Caetano lança o LP "Tropicália" ou "Pane et Circenses" e, no mesmo ano, se apresenta com os Mutantes no Tuca, em São Paulo, com a música "É Proibido Proibir", sob vaias e tomates lançados ao palco. O uso de guitarras elétricas não agrada ao público.


Patrícia Torricilia

Princiais acontecimentos dos 60

1961: Realiza-se, em São Paulo, a 4ª Bienal. Neste ano, ocorre a dinamização do Centro de Cultura Popular (CPC) da UNE e o Movimento de Cultura Popular do Recife. Dois pólos importantes na cultura nacional

1962: O filme "O Pagador de Promessa" ganha a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes

1963: É publicado o livro "A Mística Feminina", de Betty Friedan. O livro causou polêmica no mundo inteiro e é considerado um marco do movimento feminista. O cineasta Nélson Pereira dos Santos lança o filme "Vidas Secas" baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos.

09.fev.1964: Morre o compositor e radialista Ary Barroso.

10.jul.1964: Glauber Rocha lança "Deus e o Diabo na Terra do Sol", marco do cinema novo.

dez.1964: Estréia, no Rio de Janeiro, o "Show Opinião", com Zé Keti, Nara Leão, Maria Bethânia e João do Vale interpretando os texto de Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa e Paulo Pontes.

13.mar.1965: Intelectuais brasileiros lançam um manifesto à nação, exigindo o restabelecimento das liberdades democráticas e dos direitos individuais.

20.ago.1965: É lançado, na Inglaterra, o primeiro compacto dos Rolling Stones, com o sucesso "Satisfaction".

1965: A estilista inglesa Mary Quant, dona da loja Bazaar, lança a minissaia. O 1º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, é vencido pela música "Arrastão", de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, interpretada por Elis Regina. Neste ano, o teatro brasileiro sofre a censura das peças "O Berço do Herói", de Dias Gomes; "Brasil Pede Passagem", show com texto de Castro Alves e Sérgio Porto; "Berço Esplêncido", de Sérgio Porto. O cineasta Luís Sérgio Person lança o filme "Brasil S.A."

1966: William Masters e Virginia Johnson lançam a "A Respota Sexual Humana", baseado em anos de pesquisa sobre o comportamento sexual norte-americano, no qual desmistificam vários conceitos sobre a sexualidade. Roberto Carlos torna-se o rei do "iê-iê-iê" e faz sucesso, junto de Erasmo Carlos e Wanderléia. É o começo da Jovem Guarda.

1967: Os Beatles lançam o LP "Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band", revolução na música pop. Sua capa é a mais copiada da história da música. Acontece, nos


EUA, o Monterey Pop Festival. No Brasil, ocorre a
terceira edição do Festival de Música Popular da TV Record tem como vencedora a música "Ponteio", de Edu Lobo e Capinam. Em Segundo lugar fica "Domingo no Parque", de Gilberto Gil e, em terceiro, "Roda Viva", de Chico Buarque de Holanda. Caetano Veloso fica com o quarto lugar, com "Alegria, Alegria" e, juntamente com Gilberto Gil, lança o movimento tropicalista.

9.jan.1968: Frank Zappa lança o álbum "We're Only in It for the Money" (Nós Estamos Nessa Apenas Pelo Dinheiro), no qual faz uma paródia da capa do "Sgt. Pepper´s", dos Beatles, e uma crítica ao movimento hippie e seus ícones.

mai.1968: Estudantes franceses se mobilizam contra a reforma universitária feita por De Gaulle, que tentava transformar a universidade numa máquina de produzir "quadros integrados" ao sistema. Por trás das barricadas a juventude francesa trazia consigo de uma nova moralidade e uma outra cultura, como apontou o filósofo Hebert Marcuse.

1968: Em São Paulo, o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) depreda o teatro que apresentava a peça "Roda Viva", de Chico Buarque de Holanda, dirigida por José Celso Martinez Côrrea, e espanca os atores. Glauber Rocha lança o filme "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro".

Out.1968: No Rio, Geraldo Vandré apresenta, no 3º Festival Internacional da Canção, a música "Para Não Dizer que Não Falei nas Flores", considerada subversiva pelo coronel Otávio Costa, que exige a prisão do compositor. Morre Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta.

14.jun.1969: Morre a atriz Cacilda Becker.

15 a 19.ago.1969: 400 mil pessoas experimentam, durante três dias, o sonho de paz e amor preconizado pelo movimento hippie, durante o festival de Woodstock. Janis Joplin, Jimi Hendrix, Santana e The Who foram alguns dos protagonistas desses três dias de utopia, na pequena cidade de Bethel, Estado de Nova York (EUA). No mesmo ano, essa crença num mundo de paz e amor viria abaixo no festival de Altamont (próximo a San Francisco, nos EUA), no qual a apresentação dos Rolling Stones ocorre sob um clima de extrema violência. 4 pessoas morreram neste festival.

1969: Um grupo de pesquisadores e professores universitários, alguns deles proibidos de lecionar nas universidades, funda, em São Paulo, o Centro Brasileiro de Análise de Pesquisas (Cebrap), órgão independente dedicado ao estudo da sociedade brasileira.


Priscilla Landriscina

História da Economia

1960:
-A inflação acumulada de 1959 foi de 35,9%.
-O Congresso Nacional aprova a lei que cria a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), órgão com sede em Recife. Celso Furtado é nomeado seu superintendente.

18.fev.1960: O Tratado de Montevidéu cria a Associação Latino Americana de Livre Comércio (Alalc). O tratado vigora até 1981.

10 a 14.dez.1960: É criada a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). A organização reúne Arábia Saudita, Argélia, Emirados Árabes, Indonésia, Irã, Iraque, Kuait, Líbia, Nigéria, Qatar e Venezuela.

1961: A inflação acumulada de 1960 foi de 25,4%.

31.jan.1961: Sebastião Paes de Almeida deixa o cargo de ministro da Fazenda e Clemente Mariani Bittencourt assume o cargo.

07.fev.1961: É fundada a companhia aérea TAM (Táxi Aéreo Marília).

18.mai.1961: Novo acordo "stand-by" com o FMI (Fundo Monetário Internacional) no valor de US$ 200 milhões, dos quais são utilizados 80 milhões.

ago.1961: Após a renúncia de Jânio Quadros, o acordo com o Fundo é rompido. Previa uma linha de crédito de US$ 2,1 bilhões. A garantia dada para o empréstimo era a produção de ouro do biênio 1961-62.

07.set.1961: Clemente Mariani Bittencourt deixa o cargo de ministro da Fazenda. No dia seguinte, em seu lugar, assume Walter Moreira Salles.









1962:
- A inflação acumulada de 1961 foi de 34,7%.


- Maria da Conceição Tavares publica "Da Substituição das Importações ao Capitalismo

Financeiro", obra que teve 12 edições no Brasil e duas no México.
- A Comunidade Econômica Européia assina as primeiras regras de política agrícola comum, que é a pedra angular da integração dos países europeus.

13.jul.1962: Francisco de Paula Brochado da Rocha assume o Ministério da Fazenda. dias depois ele deixaria o cargo.

03.ago.1962: Miguel Calmon Du Pin A. Sobinho assume o Ministério da Fazenda.

14.set.1962: Walter Moreira Salles deixa o cargo de ministro da Fazenda.











1963:
-A inflação acumulada de 1962 foi de 50,1%.
- Maria da Conceição Tavares publica seu primeiro livro: "Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil".

22.jan.1963: Miguel Calmon Du Pin A. Sobinho deixa o cargo de ministro da Fazenda, em seu lugar assume Francisco Clementino de San Tiago Dantas.

21.jun.1963: Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto assume o Ministério da Fazenda.

19.dez.1963: Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Ney Neves Galvão.

1964: A inflação acumulada de 1963 foi de 78,4%.

03.abr.1964: Ney Neves Galvão deixa o cargo de ministro da Fazenda.

15.abr.1964: Octavio Gouvêa Bulhões assume o Ministério da Fazenda.

mai.1964: Roberto Campos assume o Ministério Extraordinário para o Planejamento e Coordenação Econômica no governo do general Castello Branco.

16.jul.1964: Criada a lei nº 4.357 que autoriza o governo a emitir ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional). A ORTN passaria a ter correção mensal a partir de 1965 e trimestral a partir de 1973.

02.dez.1964: Lei estabelece o fim do centavo de Cruzeiro.

31.dez.1964: É criado o Banco Central do Brasil, que substitui a Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito). O primeiro presidente do BC é o economista Denio Chagas Nogueira, que assume abril de 1965.

1965: A inflação acumulada de 1964 foi 89,9%.

13.jan.1965: Governo militar inicia reestruturação da economia e obtém empréstimo de US$ 125 milhões do FMI. O ministro Roberto Campos, titular da Fazenda à época, oferece, em troca, reforma fiscal, maior controle das contas públicas, reajuste de tarifas públicas e uma nova política salarial

set.1965: A convite da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da Universidade de Paris, Celso Furtado assume a cátedra de professor de Desenvolvimento Econômico. É o primeiro estrangeiro nomeado para uma universidade francesa, por decreto presidencial do general Gaulle. Permanecerá nos quadros da Sorbonne por vinte anos.









1966: A Inflação acumulada do ano 1965 foi de 34,24%.
13.set.1966: É criado o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

1967: A Inflação acumulada do ano de1966 foi de 39,12% Celso Furtado publica "Teoria Política do Desenvolvimento Econômico", obra em que considera reunido o essencial de seu pensamento sobre o tema. O empresário norte-americano Daniel K. Ludwig, um dos homens mais ricos do mundo na ocasião, compra 1,2 milhão de hectares na divisa do Estado do Pará e do então Território do Amapá, onde funda o Projeto Jarí.

13.fev.1967: Entra em circulação o Cruzeiro Novo (NCr$), moeda transitória que equivale a mil Cruzeiros antigos. Volta o centavo.

13.mar.1967: Octavio Gouvêa Bulhões deixa o cargo de ministro da Fazenda, em seu lugar assume Antônio Delfim Netto.

1968:
-A Inflação acumulada do ano de 1967 foi de 25,01%.
- Com a eliminação dos direitos alfandegários, começa a vigorar a tarifa exterior comum na Comunidade Econômica Européia.

20.abr.1968: É lançada, no Brasil, a caderneta de poupança com juros 6% ao ano mais correção monetária.

1969:
-A Inflação acumulada do ano de 1968 foi de 25,49%.
- Com a eliminação dos direitos alfandegários, começa a vigorar a tarifa exterior comum na Comunidade Econômica Européia.
- É fundada a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) A Casa da Moeda passa a fabricar o papel-moeda em circulação no país. Até essa data, as notas eram fabricadas na Inglaterra e nos Estados Unidos.

29.out.1969: Nasce a internet com a primeira transmissão de uma mensagem entre dois computadores. O professor Leonard Kleinrock supervisiona o envio da mensagem de um computador da Universidade da Califórnia (EUA) para o do Instituto de Pesquisa de Stanford (EUA). O sistema cai e a mensagem não é transmitida na íntegra.



Priscilla Landriscina

Boris Fausto abre o jogo e conta detalhes de 68


Again 6th8 - O que significou o ano de 1968?

Bóris Fausto - Este foi um ano muito especial no mundo inteiro. Houve um grande movimento popular na França, pela mudança não só das instituições, como também dos costumes políticos. Um dos lemas falava da imaginação no poder. No mesmo ano, e em outro contexto, aconteceram nos Estados Unidos os grandes festivais hippies de música, como Woodstock. Se não mudou o mundo, 1968 pelo menos o sacudiu, em todos os planos, da política e também da cultura, vista como uma expressão mais ampla. Isso se refletiu no Brasil, em vários níveis, em uma explosão na cultura que pode ser resumida na frase de uma música de Caetano Veloso: “É proibido proibir”.


Again 6th8 - E no plano político?

Bóris Fausto - Do ponto de vista político, o ano de 68 foi caracterizado por uma mobilização que se explica em grande medida por aquilo que já vinha ocorrendo: passado o primeiro momento do movimento militar de 64, as oposições foram se reerguendo. Isso redundou numa série de movimentos de classe média, como a famosa passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, em defesa da democratização, após a morte do estudante Edson Luiz. Houve também a retomada do movimento operário, com diferentes direções, em geral exemplificada em dois movimentos: um em Contagem, Minas Gerais, era reivindicatório e não propriamente agressivo; outro em Osasco, São Paulo, influenciado por formas de luta que lembravam a luta armada.


Again 6th8 - O que representou o Ato Institucional número 5?

Bóris Fausto - Uma verdadeira revolução dentro da revolução, ou, se quiserem, uma contra-revolução dentro da contra-revolução. Em dezembro de 1968, a edição do AI-5 restabeleceu uma série de medidas excepcionais suspensas pela Constituição de 67. Voltaram as cassações e o fechamento político e todo esse fechamento não tinha prazo, quer dizer, o AI-5 veio para ficar. Há quem diga que o AI-5 foi uma espécie de resposta ao início da luta armada, mas em 68 as ações armadas eram poucas. Ao que parece, o fator desencadeante pode ter sido a mobilização geral da sociedade brasileira em 1968 e a convicção ideológica de que qualquer abertura redundava em desordem. Então, era preciso endurecer, fechar, recorrer a poderes excepcionais para combater a subversão. Isso é o que explica o AI-5.


Again 6th8 - O que estava por trás da luta armada?

Bóris Fausto - A idéia de que seria impossível derrotar a ditadura por métodos pacíficos. A partir de 1968 começaram a surgir algumas ações, mas o auge foi depois do AI-5, nos anos de 69 e 70. O AI-5 fortaleceu a idéia de que os militares não se dispunham a abandonar o poder, e ficou claro que haveria cada vez menos brechas para a oposição. Essa idéia foi influenciada na época pelo êxito da Revolução Cubana, um movimento espantoso: um pequeno grupo guerrilheiro que se estabeleceu em Sierra Maestra, foi se estendendo e acabou, nas barbas dos Estados Unidos, por derrubar o regime de Batista.


Again 6th8 - Quais foram as principais organizações de luta armada?

Bóris Fausto - Uma delas era a Aliança de Libertação Nacional (ALN), cuja figura principal foi Carlos Marighella, morto pela repressão. A ALN resultou de uma cisão do Partido Comunista; foi formada em fins da década de 60, por grupos do PC, pois este rejeitava a luta armada. Houve também o MR-8, a Vanguarda Popular Revolucionária (a VPR do capitão Lamarca, que rompeu com o Exército) - essas foram as principais organizações da luta armada.


Again 6th8 - De que modo o governo militar reagiu?

Bóris Fausto - A luta armada fez sua aparição realmente espetacular a partir do seqüestro do embaixador americano Elbrick, no Rio de Janeiro (narrado no livro de Fernando Gabeira, O que é isso, companheiro?). Setores oposicionistas tiveram a impressão de que os grupos de luta armada iriam desestabilizar a ditadura, mas na verdade o regime militar desencadeou uma repressão violenta, feroz, atingindo até setores da sociedade que não integravam esses grupos.

Again 6th8 - A tortura foi um instrumento político da ditadura?

Bóris Fausto - Somente em 1968 a tortura se tornou sistemática em todo o país, como instrumento político. Antes disso, ela era utilizada em algumas situações, com diferenças geográficas. Em São Paulo, por exemplo, não havia tortura em 1964, mas no Nordeste, sim. Gregório Bezerra, líder comunista conhecido em Pernambuco, foi amarrado e arrastado por cavalos pelas ruas do Recife; coisas horríveis desse tipo!Em 68 se instalou a repressão sistemática. Foram criadas organizações – como a Operação Bandeirantes, em São Paulo – que usavam todo tipo de violência para quebrar a oposição, principalmente a ligada à luta armada. Começaram a surgir em maior número pessoas violentadas, sacrificadas, mortas. O regime militar apresentou sua face mais obscura.


Again 6th8 - O que o regime ganhou, torturando pessoas?

Bóris Fausto - Do ponto de vista dos militares, a tortura representou um instrumento poderoso para desbaratar os grupos de luta armada, que até nem teriam muita possibilidade de avançar depois de um primeiro grande impacto, mas foram mais rapidamente quebrados com a tortura, com as pessoas sendo forçadas a se delatar umas às outras. Isso acabou tornando a luta armada um rápido e trágico episódio histórico, um equívoco de enormes proporções, por mais que a gente respeite as pessoas que se sacrificaram nessa luta.


Again 6th8 - Em qual governo militar a repressão foi mais violenta?

Bóris Fausto - Quando Costa e Silva ficou doente, foi afastado do poder. Marinha, Aeronáutica e Exército elegeram, a portas fechadas, um típico representante da linha dura, o general Emílio Garrastazu Médici, do Rio Grande do Sul. O nome de Médici está associado à face mais negra da repressão, nada na história brasileira se compara a esse período, nesse sentido. Ele se beneficiou de um momento econômico extremamente favorável, quando o país cresceu a taxas extraordinárias e houve uma espécie de melhoria nas condições de vida da população. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que estabelecia uma repressão muito violenta, atacando os setores politizados e articulados da sociedade, para o resto da população o regime de Médici era associado à prosperidade, aos tempos do “milagre econômico”.


Patrícia Torricilia

Governo Costa e Silva

"Costa e Silva era um homem inteligentíssimo, de um QI altíssimo. Sempre foi o primeiro da turma e surrou Castelo em todos os cursos que fizeram juntos".

Coronel Hernani D'Aguiar



O grupo Castelista não conseguiu eleger um sucessor. O General linha-dura Arthur da Costa e Silva foi eleito Presidente. Para vice Pedro Aleixo, um civil udenista mineiro. Ambos foram empossados em Março de 67.
Costa e Silva havia sido Ministro da Guerra de Castelo Branco. Fizera uma carreira militar sólida, fora treinado nos EUA, chegou até a comandar o IV Exército nos tensos anos de 61 e 62.
Descontentes com a política Castelista de aproximação com os EUA e de facilidades concedidas aos capitalistas estrangeiros, a linha-dura e os nacionalistas autoritários das Forças Armadas concentravam suas esperanças em Costa e Silva. Devemos ressaltar que não havia muitas divergências entre os linha-duras e os nacionalistas, cogitava-se até a junção dessas duas orientações.
Costa e Silva cortou o grupo de Castelo Branco já na escolha dos ministérios, não deixando permanecer um só nome da gestão anterior.
A maioria dos ministros escolhidos eram de militares, apenas os Ministérios da Fazenda e do Planejamento foram entregues a civis. O primeiro a Delfim Neto, que havia sido Secretário da Fazenda de São Paulo, e o segundo para Hélio Beltrão.
Ao contrário do que se imaginava, Costa e Silva não foi um modelo de General Linha-dura no poder. "Levando em conta as pressões existentes na sociedade, estabeleceu pontes com a oposição moderada e tratou de ouvir os discordantes." Ao mesmo tempo, Costa e Silva incentivava as organizações sindicais e o surgimento de uma liderança em que se pudesse confiar dentro dos próprios sindicatos.
Essa liberdade restrita, porém é abalada por uma onda de protestos que s espalha por todo o país logo no início de seu governo. A radicalização da oposição é diretamente proporcional ao aumento do autoritarismo e da repressão.


Dentre as realizações desse governo podemos citar:
1. Criação do FUNAI - Fundo Nacional do Índio.
2. Criação do Mobral - Movimento Brasileiro de Alfabetização - Extinto em 1981.
3. Transformação de 68 municípios em áreas de segurança nacional (incluindo as principais capitais). Seus prefeitos passaram a ser nomeados pelo Presidente.
4. Ampliação de empresas estatais (Petrobrás / Vale do Rio Doce) com o capital estrangeiro.
5. Investimento em grandes projetos (Hidrelétricas de Volta Redonda e de Ilha Solteira).
6. Extinção da Frente Ampla.
7. Instituição do AI-5.

Patrícia Torricilia

AI 5


O Ato Institucional número 5, foi instituído por Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968 e pode ser considerado uma revolução dentro da própria revolução. Ele diferenciava-se dos demais atos por não ter prazo de validade, não sendo assim uma medida expedicional transitória, a qual durou mais de 10 anos (Até o início de 79).
Através deste ato, o presidente da república passou a ter poderes para fechar o congresso, para intervir nos estados e municípios, para nomear interventores, para cassar mandatos, suspender direitos políticos, bem com demitir ou aposentar servidores públicos.
O AI-5 suspendia a garantia de Hábeas Corpus para acusados de crimes contra a ordem econômica e social e contra a segurança nacional.
A partir deste momento, os órgãos de vigilância e repressão, a chamada comunidade de informações, passou a ser o núcleo do poder. Mais uma vez listas de cassação de mandatos, perda de direitos políticos e expurgos no funcionalismo foram editados. Os meios de comunicação passaram a ser duramente censurados. A pena de morte, a tortura e o exílio eram agora parte integrante do método de governo.
Uma das faces mais trágicas do AI-5 foi que ele reforçou a tese dos grupos de luta armada. O governo demonstrava que não cederia as pressões sociais; não se reformaria, e cada vez mais dava indícios de que se consolidaria em uma ditadura cada vez mais repressora e brutal.

Ato Institucional nº5
Art. 1º - São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições Estaduais, com as modificações constantes, deste Ato Institucional.
Art. 2º - O Presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por Ato Complementar, em estado de sítio ou fora dele, só voltando os mesmos a funcionar quando convocados pelo Presidente da República.
§ 1º - Decretado o recesso parlamentar, o Poder Executivo correspondente fica autorizado a legislar em todas as matérias e exercer as atribuições previstas nas Constituições ou na Lei Orgânica dos Municípios.
§ 2º - Durante o período de recesso, os Senadores e Deputados federais, estaduais e os vereadores só perceberão a parte fixa de seus subsídios.
§ 3º - Em caso de recesso da Câmara Municipal, a fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios que não possuem Tribunal de Contas será exercida pelo do respectivo Estado, estendendo sua ação às funções de auditoria, julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos. Art. 3º - O Presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a intervenção nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na Constituição.
Parágrafo único - Os Interventores nos Estados e Municípios serão nomeados pelo Presidente da República e exercerão todas as funções e atribuições que caibam, respectivamente, aos Governadores ou Prefeitos, e gozarão das prerrogativas, vencimentos e vantagens fixados em lei.
Art. 4º - No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos efetivos federais, estaduais e municipais.
Parágrafo único - Aos Membros dos Legislativos federal, estaduais e municipais, que tiverem seus mandatos cassados, não serão dados substítulos, determinando-se o quorum parlamentar em função dos lugares efetivamente preenchidos.
Art. 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em:
I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;
II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;
III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;
IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:
a) liberdade vigiada;
b) proibição de freqüentar determinados lugares;
c) domicílio determinado.
§ 1º - O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados.
§ 2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão aplicadas pelo Ministro de Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário.
Art. 6º - Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamobilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo.
§ 1º - O Presidente da República poderá, mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas neste artigo, assim como empregados de autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço.
§ 2º - O disposto neste artigo e seu § 1º aplica-se, também, nos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.
Art. 7º - O Presidente da República, em qualquer dos casos previstos na Constituição, poderá decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o respectivo prazo.
Art. 8º - O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.
Parágrafo único - Provada a legitimidade da aquisição dos bens far-se-á sua restituição.
Art. 9º - O Presidente da República poderá baixar Atos Complementares para a execução deste Ato Institucional, bem como adotar, se necessário à defesa da Revolução, as medidas previstas nas alíneas d e do § 2º do art. 152 da Constituição.
Art. 10 - Fica suspensa a garantia de Hábeas Corpus , nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.
Art. 11 - Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos.
Art. 12 - O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as disposições contrário.

Brasília, 13 de dezembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República. A. Costa e Silva; Luís Antônio da Gama e Silva; Augusto Hamann Rademaker Grunewald; Aurélio de Lyra Tavares; José de Magalhães Pinto; Antônio Delfim Netto; Mário David Andreazza; Ivo Arzua Pereira; Tarso Dutra; Jarbas G. Passarinho; Márcio de Souza e Mello; Leonel Miranda; José Costa Cavalcanti; Edmundo de Macedo Soares; Hélio Beltrão; Afonso de A. Lima; Carlos F. de Simas.”.


Patricia Torricilia

Rebelião Inesperada

Três meses antes do levante dos estudantes e trabalhadores parisienses, no Rio de Janeiro, dia 28 de março de 1968, Edson Luís, um secundarista carioca, foi morto numa operação policial de repressão a um protesto em frente ao restaurante universitário “Calabouço”. Isso acarretou em uma comoção nacional e em seu enterro 50 mil pessoas compareceram inclusive intelectuais e artistas.A partir daí o Brasil entrou nos dez meses mais tensos e convulsionados da história do pós-guerra. A insatisfação dos universitários com o Regime Militar de 1964 ganhou integrantes como escritores e pessoas do teatro e do cinema perseguidos pela censura. As principais capitais do país, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, em pouco tempo se tornaram palco de guerra onde estudantes e policiais se enfrentavam praticamente todos os dias. Nesse momento, a cada ação repressora, a juventude mais se bandiava para a oposição e eles enfrentavam o regime, pois os líderes civis da Frente Ampla (Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart, que estava exilado) haviam sido cassados.
Em 26 de junho daquele ano 100 mil pessoas – a Passeata dos Cem Mil – marcharam pelas tuas do Rio de Janeiro exigindo a diminuição da repressão, o fim da censura e a redemocratização do país. Porém, houve uma novidade, a presença de padres e freiras, que aderiram aos protestos. A juventude da época dividiu-se entre os “conscientes”, nos politizados que participavam das passeatas e dos protestos, e os “alienados” que não se interessavam pelas ideologias ou pela política.
Em apoio ao regime, surgiu o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) de extrema direita, o qual se especializou em atacar peças de teatro e em espancar atores e músicos considerados subversivos.
Mas, em outubro, ao organizar clandestinamente o 30º congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), o movimento estudantil praticamente se suicidou. Descobertos em Ibiúna, litoral de São Paulo, 1200 revoltosos foram presos. A liderança inteira, dentre eles Vladimir Palmeira, caiu nas mãos da polícia numa só operação. Como coroamento do desastre, o regime militar, sob chefia do general Costa e Silva, decretou em 13 de dezembro, o AI-5 (Ato Institucional nº5).Fechou-se o congresso, milhares de oposicionistas foram presos e as liberdades civis ainda restantes foram suprimidas. A partir de então, muitos jovens aderiram a luta armada, filiando-se em organizações clandestinas tais como a ALN (Ação de Libertação Nacional), a VAR-Palmares ou dezenas de outras restantes.
Tais organizações foram tardiamente reprimidas pelos militares por volta de 1972, fazendo com que os sobreviventes se exilassem ou fossem condenados a longas penas de prisão.
Podemos dizer, portanto, que a rebelião estudantil precipitou a abolição das liberdades marcando a transição do Regime Militar para a ditadura militas, mas por outro lado, anunciou o futuro Movimento das Diretas-já, de 1984, que pôs fim aos 20 anos de autoritarismo brasileiro.


Patrícia Torricilia

São Paulo

Movimento Estudantil Francês

Em 2 de maio de l1968, os estudantes da Universidade de Nanterre, num subúrbio industrial de Paris, fecharam as portas da universidade na qual eles já vinham boicotando as aulas há várias semanas, em protesto contra seu reacionário e contra a infiltração de policiais à paisana pelo campus. Não se deixando ficar atrás, os estudantes da Sorbonne ocuparam a universidade em 3 de maio.
Com o uso de cassetetes e gás lacrimogêneo, a polícia atacou os estudantes desordeiros e aprisionou em massa. Porém essas provocações geraram conflitos de rua, os quais perduraram por vários dias por toda a Paris.
Esse movimento denunciava a tanto brutalidade e a repressão policial, as políticas imperialistas do governo francês e norte-americano, quanto a Guerra do Vietnã. O Partido Francês Comunista (PCF) e a Confederação Geral do Trabalho (CGT), sindicato politicamente dominado pelo partido stalinista PCF, acusavam os estudantes de “aventureiros e delinqüentes”. Foi organizado até manifestações contrárias e representantes do movimento da juventude stalinista para desviar e bloquear as ações estudantis.
Apesar dos esforços dos stalinistas, estavam tornando-se cada vez mais populares a união da sociedade pela “solidariedade entre trabalhadores e estudantes”. Tanto é que era comum encontrar estudantes e trabalhadores escrevendo panfletos e planejando ações conjuntas nas fábricas.
Aconteceu então o grande choque, no qual estudantes e trabalhadores se juntaram na sua primeira manifestação conjunta significativa. Dia 13 de maio, todos os sindicatos com exceção da CGT (stalinista), convocaram uma greve geral para protestar contra as ações policiais.
E a partir daí, novos movimentos grevistas e novas manifestações públicas eclodiram pela França.
Na noite de 14 de maio, trabalhadores da fábrica Aviation Sud iniciaram uma greve de ocupação e os estudantes, demonstrando solidariedade, fizeram protestos. Dia 16 de maio os trabalhadores da Renault começaram a ocupação da fábrica, trancando a gerência em escritórios. Os trabalhadores da Paris Press organizaram uma greve independente e por ai vai.
Alguns dos panfletos continham escritas tais como “Ocupar as fábricas! Todo poder aos conselhos! Abolição da sociedade de classes!”.
Os funcionários do Partido Comunista Francês (stalinista) na União dos Estudantes Comunistas (UEC) tentaram revogar o chamado para a ocupação das fábricas e tomaram o sistema de correios na Sorbonne, o que levou a confrontos físicos entre os estudantes revolucionários e os stalinistas.
Apesar da resistência do PCF, as ocupações fabris se espalharam rapidamente. Até 16 de maio cerca de 50 fábricas haviam sido ocupadas. Em 17 de maio, 200 000 trabalhadores entraram em greve, e nos dias que se seguiram, o movimento se expandiu com a primeira greve geral na história da França, na qual 11 milhões de trabalhadores se envolveram e que durou por mais de duas semanas.Mesmo tendo falhado as diversas tentativas de boicotar o movimento grevista, a CGT fez uso de todos os meios a sua disposição para limitar as reivindicações dos trabalhadores às reivindicações estritamente econômicas de salário e condições de trabalho. Entretanto, o movimento grevista continuava sua escalada ascendente.
Não podendo mais conter os reacionários, o presidente Charles Gaulle anunciou, dia 24 de maio, que o governo concederia as reformas educacionais pedidas pelos estudantes e garantiria um aumento salarial significativo para os trabalhadores grevistas. O PCF e a CGT comemoraram o fato da vitória e reivindicaram que as manifestações fossem suspensas temporariamente, até que um acordo final fosse assinado com o governo.
Três dias mais tarde, a CGT negociou com os representantes do governo e firmou-se um acordo, depois conhecido com o “Pacto de Grenelee”. De acordo com as notícias da imprensa, a CGT entrou nas negociações com uma reivindicação de 30% de aumento, mas os patrões ofereceram 35% se as greves e as ocupações acabassem. Um dos mediadores entre o governo e a CGT era um jovem subsecretário no ministério de Relações Públicas, chamado Jacques Chirac.
No dia seguinte, o secretário geral da CGT, Georger Séguy, foi vaiado pelos grevistas, ao convocá-los à retomada do trabalho. E em outras empresas, a greve foi mantida, levando a uma redução na produção de combustíveis no final de maio.
Como conseqüência dessas paralisações, a infra-estrutura do país foi largamente devastada ou estava sob controle operário. Em Paris, por exemplo, pedidos se suprimento de energia tinha de ser negociados com um comitê de trabalhadores na Companhia Elétrica Estatal.
Sigilosamente, Gaulle foi a Baden-Baden na Alemanha e mais tarde foi relatado que oficiais de alguns ministérios haviam começado a rasgar documentos importantes.
No dia 27 de maio, o Comitê Central do PCF lançou uma declaração a qual denunciava expressamente aqueles que descreviam a situação como “revolucionária”. Nessa declaração era pedida sobriedade e advertia que a lei e a ordem poderiam ser mais bem restabelecidas se o Parlamento fosse dissolvido e novas eleições fossem realizadas.Gaulle não contente com a situação e convencido de que o partido comunista se opunha a seu governo, retornou à França e numa comunicação por rádio, acatou a reivindicação do PCF por novas eleições e anunciou a dissolução do parlamento, convocando um plebiscito para 23 de junho. Pediu também aos trabalhadores que voltassem ao trabalho, e ameaçou impor um estado de emergência que lhe conferia autoridade para colocar as forças armadas contra os grevistas.
No mesmo momento, uma intensa campanha de mídia foi lançada contra os estudantes e grevistas. Em 30 de maio, cerca de 1 milhão de conservadores, opostos às greves, marcharam através de Paris. O partido comunista, bloqueando o esforço pela deposição do governo gaullista e opondo-se à mobilização política da classe trabalhadora por um governo operário, entregou a direção do movimento às forças da direita.
Desde então, as ocupações foram acabando, e onde os trabalhadores se recusavam a por fim à suas ações, eram violentamente reprimidos pela polícia. Ações semelhantes aconteceram também contra a maioria das ocupações universitárias. Entretanto, foi somente no dia 18 de junho – dia em que os trabalhadores da Renault voltaram ao trabalho – que a greve acabou em definitivo.
A seguir, tanto as universidades quanto as fábricas enfrentaram uma intensa onda repressiva. Algumas organizações políticas socialistas de esquerda, como a trotsquista, foram banidas.
A liderança stalinista do PCF se orgulhou do papel desempenhado na defesa da sociedade burguesa na França.
E, garantindo as eleições parlamentares, os gaullistas foram capazes de aumentar sua maioria, controlando 358 das 487 cadeiras. A influência do PCF nas fábricas diminuiu, uma vez que grande parte dos trabalhadores virou as costas para seu partido. Fazendo assim, o desfecho do movimento estudantil e grevista francês.


Patrícia Torricilia

Primavera de Praga

Acontecimento marcante, realizado em 1968 na Tchecoslováquia e liderado por intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco, a Primavera de Praga tinha como principal objetivo promover grandes mudanças nas estruturas política, econômica e social do país. Conhecida como a experiência de um “socialismo com face humana”, foi objetivada em ‘desestalinizar’ definitivamente o país, uma vez que essa desestalinização iniciou-se no XXº Congresso do Partido Comunista da União Soviética em 1956. Remover os últimos vestígios do autoritarismo e do despotismo, considerados aberrações do sistema socialista, estava no plano de Alexander Dubcek, indicado para líder em janeiro do mesmo ano.
Foi prometida ao povo, pelo secretário-geral do partido, uma revisão da Constituição, a qual garantiria a liberdade do cidadão e os seus direitos civis. Essa abertura política abrangia o fim do monopólio do partido comunista e a livre organização partidária, representada por uma Assembléia Nacional, reunindo democraticamente todas as facetas da sociedade tcheca. Outra garantia oferecida por Dubcek era a liberdade de imprensa, o Poder Judiciário independente e a tolerância religiosa. Além disso, todos os perseguidos pelo regime seriam reabilitados e reintegrados.
As propostas, obviamente, ganharam apoio da população e a esse movimento que propôs uma mudança radical da Tchecoslováquia, dentro da área de influência da União Soviética, damos, merecidamente, o nome de “ A Primavera de Praga”.
Manifestações em favor da rápida democratização eclodiam de todos os lados. Em junho de 1968, foi publicado na Gazeta Literária (Liternární Listy), um texto de “Duas Mil Palavras” redigido por Ludvik Vaculik. Esse
texto pedia a Dubcek a aceleração do processo de abertura política e era assinado por centenas de personalidades de todos os setores sociais da tchecoslováquia. A sociedade tcheca acreditava piamente que era possível e plausível, transormar pacificamente um regime ortodoxo comunista em uma social-democracia aos moldes ocidentais. Com essas propostas, Dubcek tentava provar a possibilidade de uma economia coletivizada conviver com a ampla liberdade democrática.
O mundo, entretanto, olhava com apreensão para Praga. O que fariam os soviéticos e os países vizinhos comunistas? As liberdades conquistadas em poucos dias pelo povo tcheco eram inadimissíveis para as velhas lideranças das “Democracias Populares”. Se elas vingassem em Praga eles teriam também que liberar os seus egimes. Os soviéticos por sua vez temiam as conseqüências geopolíticas. Uma Tchecoslováquia social-democrata e independente significava sua saída do Pacto de Varsóvia, sistema defensivo anti-OTAN montado pela URSS em 1955.
Então, numa operação militar surpresa, tanques e tropas do Pacto de Varsóvia invadiram Praga em 20 de Agosto de 1968. a “Primavera de Praga” sucumbia perante a foça bruta. Foi sepultado naquele momento toda e qualquer perspectiva do socialismo conviver com um regime de liberdade. Dubcek foi imediatamente levado à Moscou e destituído do cargo. As reformas foram canceladas, porém uma semente, do que vinte anos mais tarde seria adotado pela própria hierarquia soviética representada pela política da glasnost de Michail Gorbachov, foi deixada.
E em 16 de janeiro de 1969, Jan Palach, em protesto, ateou fogo em seu corpo em praça pública.

Ofensiva Teth

Desde 1965, a pretexto do incidente do Golfo de Tonquim (que se provou falso), o presidente norte-americano Lyndon Johnson ordenara o sistemático bombardeio do Vietnã no Norte, bem como o desembarque, no Vietnã do Sul, de um reforço de mais de 300 mil soldados para evitar uma possível vitória dos vietcongs (guerrilheiros comunistas que combatiam o governo sul-vietnamita que era pró-americano). Os Estados Unidos entravam cada vez mais a fundo na Guerra do Vietnã.
No dia 30 de janeiro, na celebração de Teth, o ano novo vietnamita, os vietcongs, num ataque relâmpago surpresa, tomaram 38 cidades sul-vietnamitas, entre elas Hue e Saigon (aonde chegaram a ocupar a embaixada dos EUA), provocando uma derrota tática nas forças armadas norte-americanas. Apesar de terem perdido 30 mil homens na operação, os vietcongs provaram serem capazes de frustrar as expectativas de uma vitória americana.
A partir de então, a crescente oposição à guerra dentro dos Estados Unidos tornou-se praticamente uma insurreição da juventude, a violência dos bombardeios sobre a população civil vietnamita, composta por aldeões paupérrimos, há era motivo de desconfiança em relação à intervenção no sudeste de Ásia. A mídia americana mostrava repetidamente cenas de combates e dos sofrimentos dos soldados e dos civis e somado a isso, era visível a falta de perspectiva para a solução do conflito, foi ai que começou a surgir um sentimento de não aceitação de que a maior potencia do mundo atacasse um pequeno país de terceiro mundo sem motivo, causa ou circunstância relevante.
A ofensiva de Teth repercutiu de maneira negativa para o governo norte-americano, uma vez que, como os Estados Unidos representavam a Lei e a Ordem mundial no pós-guerra, era natural que todas as instituições por ele garantidas ou a ele associadas passassem a ser questionadas.

Martin Luther King

"Se você não está pronto para morrer por alguma coisa, você não está pronto para viver".

Martin Luther King Jr


Foi um grande líder negro americano que lutou pelos direitos civis dos cidadãos, principalmente contra a discriminação racial. Martin Luther King era pastor e sonhava com um mundo onde houvesse liberdade e justiça para todos. Foi assassinado em 4 de abril de 1968 e sua figura ficou marcada na História da Humanidade como símbolo da luta contra o racismo.
Na véspera de sua morte, 3 de abril de 1968, Martin Luther King fez um discurso à comunidade negra, no Tennessee, Estados Unidos, um país dominado pelo racismo. Em seu discurso ele disse: "Temos de enfrentar dificuldades, mas isso não me importa, pois eu estive no alto da montanha. Isso não importa. Eu gostaria de viver bastante, como todo o mundo, mas não estou preocupado com isso agora. Só quero cumprir a vontade de Deus, e ele me deixou subir a montanha. Eu olhei de cima e vi a terra prometida. Talvez eu não chegue lá, mas quero que saibam hoje que nós, como povo, teremos uma terra prometida. Por isso estou feliz esta noite. Nada me preocupa, não temo ninguém. Vi com meus olhos a glória da chegada do Senhor".
Ele parecia estar prevendo o que ia acontecer. No dia seguinte, foi assassinado por um homem branco. Durante 14 anos, Martin Luther King lutou para acabar com a discriminação racial em seu país e nesse tempo ganhou o prêmio Nobel da Paz. Sempre procurou lembrar a todos e fazer valer o princípio fundamental da Declaração da Independência Americana que diz que "Todos os homens são iguais" e conseguiu convencer a maioria dos negros que era possível haver igualdade social. Alguns dias após a morte de Martin Luther King, o presidente Lyndon Johnson assinou uma lei acabando com a discriminação social, dando esperanças ao surgimento de uma sociedade mais justa de milhões de negros americanos.
Luther King é lembrado em diversas comemorações públicas nos Estados Unidos e a terceira segunda-feira de janeiro é um feriado nacional em sua homenagem.




Patrícia Torricilia

A conquista do Espaço


A conquista da Lua designa o principal objetivo da corrida espacial entre os Estados Unidos e a URSS, ocorrida na década de 1960, e é considerada pela maioria do público como um dos episódios mais emocionantes da história da exploração espacial.
A Lua sempre atraiu a atenção do homem, e este interesse ficou registrado na poesia, na literatura e na ficção científica. Há duzentos anos, em uma famosa obra de ficção intitulada "De la Terre à la Lune" (1865), Julio Verne escreve sobre um grupo de homens que viajou até a lua usando um gigantesco canhão. Na França, George Melies foi um dos pioneiros do cinema, e em seu filme "Le voyage dans la Lune" (1902) acabou criando um dos primeiros filmes de ficção científica em que descrevia uma incrível viagem à Lua.
Com a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, os EUA e a URSS capturaram a maioria dos engenheiros que trabalharam no desenvolvimento do foguete V-2. Verdade é que eles foram relevantes apenas no programa espacial dos EUA, já que os capturados pela URSS não passavam de engenheiros e técnicos de produção. Particularmente importante para os EUA foi a aquisição de Wernher von Braun, um dos principais projetistas alemães, que participou ativamente do programa de mísseis balísticos dos EUA e depois dos primeiros passos do programa espacial estadunidense (tendo sido, inclusive, o líder da equipe que projetou o lançador Saturno V, o qual levou as naves Apollo para a lua).
Historicamente, a exploração espacial começou com o lançamento do satélite artificial Sputnik pela URSS dia 4 de outubro de 1957, no Cosmódromo de Baikonur (base de lançamento de foguetes da soviética), em Tyuratam, no Cazaquistão. Este acontecimento provocou uma corrida espacial pela conquista do espaço entre as duas superpotências, que culminou com a chegada do homem à lua.O primeiro ser vivo no espaço não foi um homem, mas a cadela russa Kudriavka, da raça laika. Ela subiu ao espaço em 3 de novembro de 1957 a bordo da nave espacial Sputnik II.
Yuri Gagarin (1934 -1968) foi o primeiro homem no espaço, em um vôo orbital de 48 minutos, a bordo da nave Vostok I. O vôo de Gagarin ocorreu em 12 de abril de 1961 e neste vôo ele disse a famosa frase: "A Terra é azul, e eu não vi Deus".
O lançamento da Sputnik e a colocação do primeiro homem no espaço devem-se, em grande parte, ao talento do engenheiro soviético Sergei Korolev, o engenheiro-chefe do programa espacial soviético, que conseguiu convencer Nikita Khrushchov, na época o líder da URSS, a investir no programa espacial. Foi ele quem primeiro teve a idéia de levar (realmente) homens à Lua.
Quatro meses após o lançamento da Sputnik I, os americanos responderam com seu primeiro satélite, o Explorer I, em 31 de janeiro de 1958.
O número de satélites artificiais terrestres e sondas espaciais lançados pelos EUA e pela URSS multiplicaram-se nos primeiros anos da corrida espacial. Aos Sputniks soviéticos seguiram-se, além do Explorer I, as Vanguard I, II e III dos americanos, e uma grande quantidade de satélites de comunicação, meteorológicos e espiões. Por volta da metade da década de 1960 ambos, EUA e URSS, haviam lançado tantos satélites que se tornaria inconveniente indicá-los a todos num artigo generalista como este. Além das Sputniks, os soviéticos haviam lançado 12 satélites da série Cosmos, e os americanos haviam lançado 16 satélites Explorers e mais 38 satélites de reconhecimento Discoverer, só para citar alguns.Os feitos iniciais da URSS na corrida espacial, que incluem o primeiro satélite artificial - o Sputnik - e o primeiro homem no espaço – Yuri Gagarin, desafiaram os EUA, cujo programa espacial ainda dava os primeiros passos - o primeiro estadunidense iria ao espaço só em 5 de maio de 1961, mesmo assim apenas em um vôo sub-orbital.
Em julho de 1958 é criada a agência espacial dos EUA, Nasa, responsável por coordenar todo o esforço estadunidense de exploração espacial e administrar o programa espacial dos EUA.
Muito do atraso inicial do programa espacial dos EUA pode ser atribuído a um erro estratégico de investir inicialmente nos lançadores Vanguard, mais complexos e menos confiáveis que os lançadores Redstone (baseados nas antigas V-2 alemãs). Isto acarretou que a capacidade de lançamento estadunidense era de 5 kg no momento em que a Sputnik I, de 84 kg mas com capacidade de 500 kg, foi recém lançada pela URSS.famoso discurso de 1961, Jonh F. Kennedy lançou o desafio de "enviar homens à Lua e retorná-los a salvo" antes que a década terminasse.
No famoso discurso na Universidade Rice suas palavras foram: We choose to go to the moon. We choose to go to the moon in this decade and do the other things, not because they are easy, but because they are hard ("Nós decidimos ir a Lua. Nós decidimos ir à Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis").
A partir de então, os EUA colocaram em marcha um ambicioso programa espacial tripulado que iniciou com o Projeto Mercury, que usava uma cápsula com capacidade para um astronauta em manobras em órbita terrestre, seguido pelo Projeto Gemini com capacidade para dois astronautas, e finalmente o Projeto Apollo, cuja espaçonave tinha capacidade de levar três astronautas e pousar na lua.
Os primeiros astronautas a circum-navegar a lua foram os tripulantes da Apollo 8, Frank Borman, James A. Lovell Jr., e William A. Anders, na noite de Natal de 1968.Por problemas em suas missões Zond (que usavam a nave Soyuz modificada para circum-navegação da Lua), os soviéticos não foram capazes de levar homens à órbita da lua antes dos EUA, e nunca mais o fariam. Apenas missões Zond não tripuladas, Zond 5 e Zond 6, o fizeram em setembro e novembro de 1968. Após isto, ainda houve as missões não tripuladas Zond 7 e Zons 8 que circum-navegaram a Lua em 1969 e 1970, já após os bem sucedidos vôos tripulados americanos para a Lua.
Os EUA foram bem sucedidos em seu objetivo de alcançar a Lua antes da URSS, em 1969, com a missão Apollo 11. Para atingir este objetivo, o Projeto Apollo envolveu um fantástico esforço de US$ 20 bilhões, 20 mil companhias que desenvolveram/fabricaram componentes e peças, e 300 mil trabalhadores.
"Buzz" Aldrin fotografado por Neil Armstrong - Apollo 11
A missão Apollo 11 pousou na superfície lunar em 20 de julho de 1969, em um local chamado "Sea of Tranquility" (Mar da Tranquilidade). Neil Armstrong e Edwin E. “Buzz” Aldrin tornaram-se os primeiros homens a caminhar no solo lunar.
Depois da Apollo 11 outras seis missões Apollo pousaram na lua (no total de doze astronautas que caminharam na Lua).
Ficou famosa a frase do primeiro astronauta a pisar na Lua, Neil A. Armstrong: "Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade".Os astronautas da Apollo 11 colocaram uma placa na Lua, onde se lê: Here Men From Planet Earth First Set Foot Upon The Moon. July 1969 A.D. We Came In Peace For All Mankind. (Aqui os homens do planeta Terra pisaram pela primeira vez na Lua. Julho de 1969. Viemos em paz, em nome de toda a humanidade).
A corrida espacial e a conquista da Lua foram um épico moderno recheado de aventura, perigo e emoção. Milhões acompanharam pela televisão os passos desta aventura e vibraram com a chegada do homem.


Gabriela Sciulli

Saúde

O cirurgião brasileiro Euryclides Zerbini e sua equipe realizam o primeiro transplante cardíaco da América Latina.

Vinte e seis de maio de 1968: O cirurgião brasileiro Euryclides Zerbini e sua equipe realizam o primeiro transplante cardíaco da América Latina. Poucos meses antes, o Dr. Christian Barnard havia realizado, na África do Sul, a primeira experiência do tipo em todo o mundo.
Euryclides de Jesus Zerbini nasceu em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, no dia 10 de maio de 1912. Forma-se médico em 1935, especialista em cirurgia geral. A intervenção cardíaca é ainda algo raro na medicina - o coração é o tabu dos cirurgiões.
Mesmo assim, quando em 1942 entra no Pronto Socorro um garoto de sete anos com um estilhaço de ferro dentro do peito, o Dr. Zerbini não hesita: abre o coração do menino e religa sua artéria coronária, salvando-lhe a vida. Um grande feito médico, que estimula o Dr. Zerbini a seguir para os Estados Unidos e se especializar em cirurgia torácica. A partir de 1950, começa a praticar a cirurgia intracardíaca fechada. Professor da Universidade de São Paulo cria o Centro de Ensino de Cirurgia Cardíaca, semente do futuro Instituto do Coração. Em 1957, inicia com sua equipe as primeiras cirurgias cardíacas com circulação extracorpórea. Nos porões do Hospital das Clínicas, em São Paulo, instala uma oficina experimental. Começa a produção artesanal das máquinas que fazem a circulação e oxigenação do sangue para fora do corpo durante as cirurgias.
Ao realizar o primeiro transplante brasileiro de coração, o Dr. Zerbini e sua equipe tornam-se famosos do dia para a noite. É grande o impacto sobre a opinião pública, devido ao tratamento espetacular que a imprensa dá ao assunto. Hoje, a fundação exporta tecnologia. Os transplantes cardíacos, suspensos em 1969, são retomados em 1980. Isso só foi possível graças à descoberta da ciclosporina, droga capaz de evitar que o organismo do paciente rejeite o órgão transplantado.
Em 1985, aos 73 anos de idade, o Dr. Zerbini volta a ser pioneiro ao realizar o primeiro transplante de coração num paciente portador do mal de Chagas.
Em 58 anos de carreira, o Dr. Zerbini recebe 125 títulos honoríficos e inúmeras homenagens de governos de todo o mundo. Participa de 314 congressos médicos. Realiza, pessoalmente ou através de sua equipe, mais de quarenta mil cirurgias cardíacas. Euryclides de Jesus Zerbini morre aos 81 anos de idade, em 23 de outubro de 1993. Trabalhou até às vésperas de sua morte, operando e realizando palestras e conferências.


Gabriela Sciulli

Esporte

Especial Boxe

No início do séc. XX, a prática desportiva era quase totalmente desconhecida no Brasil. Os raros esportistas limitavam-se a membros das comunidades de emigrantes alemães e italianos, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Foi só com eles que foi introduzida, entre nós, a idéia de competição esportiva entre dois homens ou entre equipes, principalmente em modalidades como natação e canoagem.
Além dessa falta de tradição esportiva, outra característica desfavorecia a introdução do boxe no Brasil: no final do sec. XIX e início do XX, lutar era sempre associado à coisa de capoeiristas e, então, à marginalidade. Esse preconceito era especialmente forte entre os membros da elite dirigente do país.
As primeiras exibições de boxe em solo brasileiro ocorreram naquela época e só reforçaram esse preconceito: foram feitas por marinheiros europeus, que tinham aportado em Santos e no Rio de Janeiro, e naquela época os marinheiros eram recrutados das classes mais humildes.

A década de Eder Jofre: os anos 60's:

O maior boxeador brasileiro de todos os tempos nasceu em uma família de pugilistas: tanto por parte do pai ( família Jofre, oriunda da Argentina ) como por parte da mãe ( família dos Zumbanos ). Assim que Éder Jofre, praticamente, nasceu dentro do ringue e desde cedo aprendeu as "manhas" da nobre arte.
Desde muito cedo exibia características que acabaram lhe colocando num lugar de destaque na história do boxe mundial: tinha como principal arma um fortísssimo gancho de esquerda e uma igualmente arrasadora direita; não menos importante era sua grande inteligência que lhe permitia modificar o estilo de luta segundo o adversário.
Estreou como amador aos 17 anos de idade, em 1953. Em seus quatro anos de competição entre os amadores não conseguiu nenhum título de importância internacional. Seu sucesso só viria explodir como profissional, carreira que iniciou aos 21 anos, em 1956.
Já em 1958 tornou-se campeão brasileiro dos pesos galo. Contudo, o sucesso internacional não foi tão rápido. Para isso foi fundamental o trabalho de seu empresário, Jacó Nahun. Esse, usou sua experiência para construir uma "escadinha" que permitisse Éder fazer um renome internacional e assim poder esperar por uma chance de disputar o título mundial. Essa chance começou a ficar mais próxima em 1960, quando Jacó Nahun conseguiu a inclusão de Éder entre os dez primeiros do ranking de galos da NBA (a associação que mais tarde deu origem a atual WBA=Associação Mundial de Boxe). Atingindo esse ponto, Éder trocou de empresário (Nahun, magoado com a "traição", abandonou o boxe) e foi lutar nos USA, onde fez três lutas que melhoraram sua posição no ranking. Ainda nesse mesmo ano de 1960, finalmente, materializou-se a oportunidade de disputa pelo título mundial quando o então campeão mundial dos galos, Joe Becerra, renunciou ao seu título depois de ter causado a morte de seu último adversário. Com isso, no final de 1960, acabou sendo marcada uma luta pelo título vago entre Éder e o mexicano Eloy Sanchez. Éder Jofre precisou de apenas seis rounds para se adonar do cinturão.
Contudo, Éder ainda não havia chegado ao topo, pois a União Européia de Boxe não reconhecia os campeões da americana NBA. Foi só em 1962 que surgiu a oportunidade de uma luta pela unificação dos pesos galo, entre Jofre campeão pela NBA e Johnny Caldwell campeão pela UEB. Essa luta foi travada no ginásio do Ibirapuera, com um público record de 23 000 pessoas. Éder massacrou o irlandês Caldwell e se tornou o undisputed champion dos pesos galo.
Jofre defendeu com sucesso seu cinturão por sete vezes, até 1965, não fugindo de nenhum adversário, por mais perigoso que esse fosse. Contudo, seu maior inimigo crescia a olhos vistos: era seu excesso de peso, que lhe fêz realizar várias lutas muito desidratado e até mal alimentado. Apesar disso, pressionado de vários lados, Éder preferiu não subir para a categoria dos pesos pena. A decisão foi errada: em 1965 foi vencido pelo maior boxeador japonês de todos os tempos, Masahiko "Fighting" Harada. No ano seguinte, o japonês concedeu revanche e venceu novamente. Com isso, Jofre declarou sua aposentadoria. Tinha 10 anos de profissionalismo e estava com 30 anos, o que é considerada uma idade avançada para um boxeador da categoria dos galos.
Como peso galo, Éder Jofre recebeu as maiores distinções: em eleição promovida pela mais conceituada publicação de boxe do mundo, The Ring Magazine, os leitores dessa revista elegeram Éder Jofre como um dos dez melhores boxeadores do século XX; foi o primeiro boxeador não americano indicado para o Hall of Fame do boxe.


Jogos olímpicos – cidade do México


Em 1968 ocorreu os Jogos Olímpicos na Cidade do México. A altitude favorece a quebra de um grande número de recordes mundiais. O americano Bob Beamon salta 8,90m no salto em distância, estabelecendo um recorde que duraria até a década de 1990. Jim Hines, Tommie Smith e Lee Evans, todos americanos e negros, vencem, respectivamente, os 100, 200 e 400m livres.
Smith comemora apoiando movimentos radicais de afirmação negra e é suspenso da delegação americana. Alfred Oerter consegue a marca inigualada de quatro medalhas de ouro seguidas em Olimpíadas, ao vencer o arremesso de disco. A ginasta tchecoslovaca Vera Caslavska conquista quatro medalhas de ouro, que somam-se a três conquistadas anteriormente em Tóquio.
Nélson Prudêncio continua a tradição brasileira no salto triplo, obtendo a medalha de prata. O salto triplo, novamente, rendeu a melhor colocação do Brasil numa Olimpíada. Depois do ouro de Adhemar Ferreira da Silva em Helsinque e Melbourne, foi a vez de Nelson Prudêncio faturar uma medalha de prata na competição.
O brasileiro por muito pouco não ficou com o ouro. Na final, Prudêncio saltou 17,27 m, novo recorde mundial. Quando já comemorava a conquista, o soviético Viktor Saneyev estragou a festa, ao dar um salto de 17,39 m.
Além da prata de Prudêncio, o Brasil deixou a Cidade do México com duas medalhas de bronze. Servílio de Oliveira, na categoria moscas do boxe, e Reinald Conrad e Bukhard Cordes, no iatismo, foram os ganhadores.
O Brasil ainda esteve próximo de outras duas medalhas: no basquete e na natação. A seleção masculina de basquete perdeu a decisão do terceiro lugar para a União Soviética, por 70 a 53. Nas semifinais, o Brasil havia sido derrotado pelos Estados Unidos, campeões pela sétima vez consecutiva.
Na natação, José Silvio Fiolo terminou a prova dos 100 m peito com o tempo de 1min08s1. O brasileiro ficou a 0s1 dos soviéticos Vladimir Kosinsky e Nikolai Pankin, medalhas de prata e bronze na competição.
Mas o ano de 1968 não foi essa maravilha cheia de glórias e vitórias vários países a principio das olimpíadas estavam agitados.
Na França,por exemplo, os estudantes entraram em confronto contra a polícia. Nos Estados Unidos, o líder negro Martin Luther King foi assassinado. O país também estava em crise devido à Guerra do Vietnã. Na Europa, a União Soviética invadiu a Tchecoslováquia. Até no Brasil o clima estava tenso, com os militares fechando o Congresso Nacional e endurecendo a repressão.
Portanto, como não poderia deixar de ser, as Olimpíadas foram influenciadas pela política. Pouco antes da abertura da competição, cerca de 10 mil estudantes e professores fizeram um protesto contra o governo, que estava gastando muito dinheiro com os Jogos. A polícia reagiu, matando quase 300 manifestantes.
A disputa mexicana ficou marcada por uma cena, talvez a mais emblemática de toda a história dos Jogos Olímpicos. Após a final dos 200 m rasos, os norte-americanos Tommie Smith e John Carlos (medalhas de ouro e bronze) protestaram contra o racismo dos EUA. Os dois subiram ao pódio com luvas pretas, fazendo o gesto Black Power.

Números gerais das Olimpíadas


Medalhas O P B T
1º EUA 45 28 34 107
2ºURSS 29 32 30 91
3ºJapão 11 7 7 25
4ºHungria 10 10 12 32
35ºBrasil 0 1 2 3


No período de 12 a 27 de outubro participaram 112 países totalizando 5531 atletas (4750homens e 781 mulheres).
Eram 20 modalidades dentre elas estavam o basquete,boxe,canoagem,atletismo, ciclismo,esgrima,futebol,ginástica, hipismo,hóquei na grama,iatismo(vela), halterofilismo , luta, natação, pentatlo moderno,pólo aquático,remo,saltos ornamentais,tiro e vôlei.
Foram distribuídas 527 medalhas no total das olimpíadas.


Números do Brasil:

Nas olimpíadas na Cidade do México participaram cerca de 84 atletas,dentre eles 81 homens e 3 mulheres.
Estes participavam de 13 modalidades como atletismo, basquete,boxe, esgrima,futebol,hipismo, halterofilismo,iatismo,natação,pólo aquático,remo,tiro e vôlei .


Priscilla Landriscina

A Patente do Video Game

Ralph Baer, hoje conhecido mundialmente como o pai dos consoles de videogame, nasceu em 1922 na Alemanha Oriental. Sua biografia, como era de se esperar, mostra como o destino uniu-o à causa que o deixou famoso para sempre. Com medo das loucuras de Hitler, fugiu da Alemanha nazista em 1938, indo morar nos Estados Unidos. Mas de nada adiantou, pois os EUA entraram na 2º Guerra no ano seguinte, e ele voltou a Europa para a batalha, trabalhando no serviço de inteligência, de onde saiu com vida. De volta ao mundo livre, e depois de conseguir seu diploma em engenharia eletrônica, Baer trabalhou em várias empresas, mexendo com Radio e TVs e patenteando diversas invenções na sua área. Mas foi como empregado da Sander Associates, em 1966, que ele teve a idéia que colocaria para sempre seu nome nos anais da história. Sua criação? Uma máquina que rodasse jogos eletrônicos através da TV, que custasse barato e pudesse ser utilizada por qualquer pessoa que quisesse se divertir.
Com o auxílio de amigos e colegas na Sanders Associates, surgiu em 1967 um primeiro esboço de sua idéia, o "chasing game", um rudimentar jogo de "Ping Pong", onde 2 quadrados controlados pelo jogador podiam ser movidos pela tela. Satisfeito com a idéia geral do produto, Baer tratou de patenteá-lo e apresentou em 1968 o protótipo do videogame, chamado de "Brown Box", e que rodava jogos de futebol, voleibol e até mesmo de tiro.
Eis o texto oficial da patente do primeiro console de videogame, pedida por Ralph Baer:
"The present invention pertains to an apparatus [and method], in conjunction with monochrome and color television receivers, for the generation, display, manipulation, and use of symbols or geometric figures upon the screen of the television receivers for the purpose of [training simulation, for] playing games [and for engaging in other activities] by one or more participants. The invention comprises in one embodiment a control unit, an apparatus connecting the control unit to the television receiver and in some applications a television screen overlay mask utilized in conjunction with a standard television receiver. The control unit includes the control, circuitry, switches and other electronic circuitry for the generation, manipulation and control of video signals which are to be displayed on the television screen. The connecting apparatus selectively couples the video signals to the receiver antenna terminals thereby using existing electronic circuits within the receiver to process and display the signals generated by the control unit in a first state of the coupling apparatus and to receive broadcast television signals in a second state of the coupling apparatus. An overlay mask which may be removably attached to the television screen may determine the nature of the game to be played or the training simulated. Control units may be provided for each of the participants. Alternatively, games [training simulations and other activities] may be carried out in conjunction with background and other pictorial information originated in the television receiver by commercial TV, closed-circuit TV or a CATV station."
Se você pensou que o Atari foi o primeiro console de videogame a ser lançado no mercado, está redondamente enganado. O protótipo "Brown Box", inventado e patenteado por Ralph Baer, foi mostrado para grandes empresas americanas de eletrônicos da época, como a RCA, Zenith, General Electric e a Magnavox (braço da Philips holandesa), e foi esta última que tratou de lançar no mercado o primeiro console de videogame da história, conhecido como Odyssey 100.


Tatiana Sasaya

A Origem da Moda

Os anos 50 chegaram ao fim com uma geração de jovens, filhos do chamado "baby boom", que vivia no auge da prosperidade financeira, em um clima de euforia consumista gerada nos anos do pós-guerra nos EUA.
A nova década que começava já prometia grandes mudanças no comportamentoiniciada com o sucesso do rock and roll e o rebolado frenético de Elvis Presley, seu maior símbolo.
A imagem do jovem de blusão de couro, topete e jeans, em motos ou lambretas, mostrava uma rebeldia ingênua sintonizada com ídolos do cinema como James Dean e Marlon Brando.
As moças bem comportadas já começavam a abandonar as saias rodadas de Dior e atacavam de calças cigarette, num prenúncio de liberdade.
Os anos 60, acima de tudo, viveram uma explosão de juventude em todos os aspectos.
Era a vez dos jovens, que influenciados pelas idéias de liberdade,começavam a se opor à sociedade de consumo vigente. O movimento, que nos 50 vivia recluso em bares nos EUA, passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria novas mudanças de comportamento jovem, como a contracultura e o pacifismo do final da década.
Era o fim da moda única, que passou a ter várias propostas e a forma de se vestir se tornava cada vez mais ligada ao comportamento.
Conscientes desse novo mercado consumidor e de sua voracidade, as empresas criaram produtos específicos para os jovens, que, pela primeira vez, tiveram sua própria moda, não mais derivada dos mais velhos. Aliás, a moda era não seguir a moda, o que representava claramente um sinal de liberdade, o grande desejo da juventude da época.
Algumas personalidades de características diferentes, como as atrizes Jean Seberg, Natalie Wood, Audrey Hepburn, Anouk Aimée, modelos como Twiggy, Jean Shrimpton, Veruschka ou cantoras como Joan Baez, Marianne Faithfull e Françoise Hardy, acentuavam ainda mais os efeitos de uma nova atitude.
Na moda, a grande vedete dos anos 60 foi, sem dúvida, a minissaia. A inglesa Mary Quant divide com o francês André Courrèges sua criação. Entretanto, nas palavras da própria Mary Quant: "A idéia da minissaia não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua que a inventou". Não há dúvidas de que passou a existir, a partir de meados da década, uma grande influência da moda das ruas nos trabalhos dos estilistas. Mesmo as idéias inovadoras de Yves Saint Laurent com a criação de japonas e sahariennes (estilo safári) foram atualizações das tendências que já eram usadas nas ruas de Londres ou Paris.
Em 1965, na França, André Courrèges produziu uma verdadeira revolução na moda, com sua coleção de roupas de linhas retas, minissaias, botas brancas e sua visão de futuro, em suas "moon girls", de roupas espaciais, metálicas e fluorescentes. Enquanto isso, Saint Laurent criou vestidos tubinho inspirados nos quadros neoplasticistas de Mondrian e o italiano Pucci virou mania com suas estampas psicodélicas. Paco Rabanne, em meio às suas experimentações, usou alumínio como matéria-prima.
As mudanças no vestuário também alcançaram a lingerie, com a generalização do uso da calcinha e da meia-calça, que dava conforto e segurança, tanto para usar a minissaia, quanto para dançar o twist e o rock.
O unissex ganhou força com os jeans e as camisas sem gola.Pela primeira vez,a mulher ousava se vestir com roupas tradicionalmente masculinas,como o smoking(lançado em 1966).
A alta-costura cada vez mais perdia terreno e, entre 1966 e 1967, o número de maisons inscritas na Câmara Sindical dos costureiros parisienses caiu de 39 para 17. Consciente dessa realidade, Saint Laurent saiu na frente e inaugurou uma nova estrutura com as butiques de prêt-à-porter de luxo, que se multiplicariam pelo mundo também através das franquias. Com isso, a confecção ganhava cada vez mais terreno e necessitava de criatividade para suprir o desejo por novidades. O importante passaria a ser o estilo e o costureiro passou a ser chamado de estilista.
A modelo Jean Shrimpton era a personificação das chamadas "chelsea girls". Sua aparência era adolescente, sempre de minissaia, com seus cabelos longos com franja e olhos maquiados. Catherine Deneuve também encarnava o estilo das "chelsea girls", assim como sua irmã, a também atriz Françoise Dorléac. Por outro lado, Brigitte Bardot encarnava o estilo sexy, com cabelos compridos soltos rebeldes ou coque no alto da cabeça(muito imitado pelas mulheres).
Entretanto, os anos 60 sempre serão lembrados pelo estilo da modelo e atriz Twiggy, muito magra, com seus cabelos curtíssimos e cílios inferiores pintados com delineador.
A maquiagem era essencial e feita especialmente para o público jovem. O foco estava nos olhos, sempre muito marcados. Os batons eram clarinhos ou mesmo brancos e os produtos preferidos deviam ser práticos e fáceis de usar. Nessa área, Mary Quant inovou ao criar novos modelos de embalagens, com caixas e estojos pretos, que vinham com lápis, pó, batom e pincel. Ela usou nomes divertidos para seus produtos, como o "Come Clean Cleanser", sempre com o logotipo de margarida, sua marca registrada.
As perucas também estavam na moda e nunca venderam tanto. Mais baratas e em diversas tonalidades e modelos, elas eram produzidas com uma nova fibra sintética, o kanekalon.
O estilo da "swinging London" culminou com a Biba, uma butique independente, frequentada por personalidades da época. Seu ar romântico retrô, aliado ao estilo camponês, florido e ingênuo de Laura Ashley, estavam em sintonia com o início do fenômeno hippie do final dos anos 60.
A moda masculina, por sua vez, foi muito influenciada, nos início da década, pelas roupas que os quatro garotos de Liverpool usavam, especialmente os paletós sem colarinho de Pierre Cardin e o cabelo de franjão. Também em Londres, surgiram os mods, de paletó cintado, gravatas largas e botinas. A silhueta era mais ajustada ao corpo e a gola rolê se tornou um clássico do guarda-roupa masculino. Muitos adotaram também a japona do pescador e até mesmo o terno de Mao.
No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de roupas coloridas e como na música, usava botinha sem meia e cabelo na testa (como os Beatles). A palavra de ordem era "quero que vá tudo pro inferno".
No final dos anos 60, de Londres, o reduto jovem mundial se transferiu para São Francisco (EUA), região portuária que recebia pessoas de todas as partes do mundo e também por isso, berço do movimento hippie, que pregava a paz e o amor, através do poder da flor [flower power], do negro [black power], do gay [gay power] e da liberação da mulher [women's lib]. Manifestações e palavras de ordem mobilizaram jovens em diversas partes do mundo.
A esse conjunto de manifes-tações que surgiram em diversos países deu-se o nome de
contracultura.
Uma busca por um outro tipo de vida, underground, à margem do sistema oficial.
Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas.
A moda passou a ser as roupas antes reservadas às classes operárias e camponesas, como os jeans americanos, o básico da moda de rua. Nas butiques chiques, a moda étnica estava presente nos casacos afegãos, fulares indianos, túnicas floridas e uma série de acessórios da nova moda, tudo kitsch, retrô e pop.
Toda a rebeldia dos anos 60 culminaram em 1968. O movimento estudantil explodiu e tomou conta das ruas em diversas partes do mundo e contestava a sociedade, seus sistemas de ensino e a cultura em diversos aspectos, como a sexualidade, os costumes, a moral e a estética.
No Brasil, lutava-se contra a ditadura militar, contra a reforma educacional, o que iria mais tarde resultar no fechamento do Congresso e na decretação do Ato Institucional nº 5.
Talvez o que mais tenha caracterizado a juventude dos anos 60 tenha sido o desejo de se rebelar, a busca por liberdade de expressão e liberdade sexual. Nesse sentido, para as mulheres, o surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década, foi responsável por um comportamento sexual feminino mais liberal. Porém, elas também queriam igualdade de direitos, de salários, de decisão. Até o sutiã foi queimado em praça pública, num símbolo de libertação.
Os 60 chegaram ao fim, coroados com a chegada do homem à Lua, em julho de 1969, e com um grande show de rock, o "Woodstock Music & Art Fair", em agosto do mesmo ano, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em três dias de amor, música, sexo e drogas.


Priscilla Landriscina