terça-feira, 8 de julho de 2008

Movimento Estudantil Francês

Em 2 de maio de l1968, os estudantes da Universidade de Nanterre, num subúrbio industrial de Paris, fecharam as portas da universidade na qual eles já vinham boicotando as aulas há várias semanas, em protesto contra seu reacionário e contra a infiltração de policiais à paisana pelo campus. Não se deixando ficar atrás, os estudantes da Sorbonne ocuparam a universidade em 3 de maio.
Com o uso de cassetetes e gás lacrimogêneo, a polícia atacou os estudantes desordeiros e aprisionou em massa. Porém essas provocações geraram conflitos de rua, os quais perduraram por vários dias por toda a Paris.
Esse movimento denunciava a tanto brutalidade e a repressão policial, as políticas imperialistas do governo francês e norte-americano, quanto a Guerra do Vietnã. O Partido Francês Comunista (PCF) e a Confederação Geral do Trabalho (CGT), sindicato politicamente dominado pelo partido stalinista PCF, acusavam os estudantes de “aventureiros e delinqüentes”. Foi organizado até manifestações contrárias e representantes do movimento da juventude stalinista para desviar e bloquear as ações estudantis.
Apesar dos esforços dos stalinistas, estavam tornando-se cada vez mais populares a união da sociedade pela “solidariedade entre trabalhadores e estudantes”. Tanto é que era comum encontrar estudantes e trabalhadores escrevendo panfletos e planejando ações conjuntas nas fábricas.
Aconteceu então o grande choque, no qual estudantes e trabalhadores se juntaram na sua primeira manifestação conjunta significativa. Dia 13 de maio, todos os sindicatos com exceção da CGT (stalinista), convocaram uma greve geral para protestar contra as ações policiais.
E a partir daí, novos movimentos grevistas e novas manifestações públicas eclodiram pela França.
Na noite de 14 de maio, trabalhadores da fábrica Aviation Sud iniciaram uma greve de ocupação e os estudantes, demonstrando solidariedade, fizeram protestos. Dia 16 de maio os trabalhadores da Renault começaram a ocupação da fábrica, trancando a gerência em escritórios. Os trabalhadores da Paris Press organizaram uma greve independente e por ai vai.
Alguns dos panfletos continham escritas tais como “Ocupar as fábricas! Todo poder aos conselhos! Abolição da sociedade de classes!”.
Os funcionários do Partido Comunista Francês (stalinista) na União dos Estudantes Comunistas (UEC) tentaram revogar o chamado para a ocupação das fábricas e tomaram o sistema de correios na Sorbonne, o que levou a confrontos físicos entre os estudantes revolucionários e os stalinistas.
Apesar da resistência do PCF, as ocupações fabris se espalharam rapidamente. Até 16 de maio cerca de 50 fábricas haviam sido ocupadas. Em 17 de maio, 200 000 trabalhadores entraram em greve, e nos dias que se seguiram, o movimento se expandiu com a primeira greve geral na história da França, na qual 11 milhões de trabalhadores se envolveram e que durou por mais de duas semanas.Mesmo tendo falhado as diversas tentativas de boicotar o movimento grevista, a CGT fez uso de todos os meios a sua disposição para limitar as reivindicações dos trabalhadores às reivindicações estritamente econômicas de salário e condições de trabalho. Entretanto, o movimento grevista continuava sua escalada ascendente.
Não podendo mais conter os reacionários, o presidente Charles Gaulle anunciou, dia 24 de maio, que o governo concederia as reformas educacionais pedidas pelos estudantes e garantiria um aumento salarial significativo para os trabalhadores grevistas. O PCF e a CGT comemoraram o fato da vitória e reivindicaram que as manifestações fossem suspensas temporariamente, até que um acordo final fosse assinado com o governo.
Três dias mais tarde, a CGT negociou com os representantes do governo e firmou-se um acordo, depois conhecido com o “Pacto de Grenelee”. De acordo com as notícias da imprensa, a CGT entrou nas negociações com uma reivindicação de 30% de aumento, mas os patrões ofereceram 35% se as greves e as ocupações acabassem. Um dos mediadores entre o governo e a CGT era um jovem subsecretário no ministério de Relações Públicas, chamado Jacques Chirac.
No dia seguinte, o secretário geral da CGT, Georger Séguy, foi vaiado pelos grevistas, ao convocá-los à retomada do trabalho. E em outras empresas, a greve foi mantida, levando a uma redução na produção de combustíveis no final de maio.
Como conseqüência dessas paralisações, a infra-estrutura do país foi largamente devastada ou estava sob controle operário. Em Paris, por exemplo, pedidos se suprimento de energia tinha de ser negociados com um comitê de trabalhadores na Companhia Elétrica Estatal.
Sigilosamente, Gaulle foi a Baden-Baden na Alemanha e mais tarde foi relatado que oficiais de alguns ministérios haviam começado a rasgar documentos importantes.
No dia 27 de maio, o Comitê Central do PCF lançou uma declaração a qual denunciava expressamente aqueles que descreviam a situação como “revolucionária”. Nessa declaração era pedida sobriedade e advertia que a lei e a ordem poderiam ser mais bem restabelecidas se o Parlamento fosse dissolvido e novas eleições fossem realizadas.Gaulle não contente com a situação e convencido de que o partido comunista se opunha a seu governo, retornou à França e numa comunicação por rádio, acatou a reivindicação do PCF por novas eleições e anunciou a dissolução do parlamento, convocando um plebiscito para 23 de junho. Pediu também aos trabalhadores que voltassem ao trabalho, e ameaçou impor um estado de emergência que lhe conferia autoridade para colocar as forças armadas contra os grevistas.
No mesmo momento, uma intensa campanha de mídia foi lançada contra os estudantes e grevistas. Em 30 de maio, cerca de 1 milhão de conservadores, opostos às greves, marcharam através de Paris. O partido comunista, bloqueando o esforço pela deposição do governo gaullista e opondo-se à mobilização política da classe trabalhadora por um governo operário, entregou a direção do movimento às forças da direita.
Desde então, as ocupações foram acabando, e onde os trabalhadores se recusavam a por fim à suas ações, eram violentamente reprimidos pela polícia. Ações semelhantes aconteceram também contra a maioria das ocupações universitárias. Entretanto, foi somente no dia 18 de junho – dia em que os trabalhadores da Renault voltaram ao trabalho – que a greve acabou em definitivo.
A seguir, tanto as universidades quanto as fábricas enfrentaram uma intensa onda repressiva. Algumas organizações políticas socialistas de esquerda, como a trotsquista, foram banidas.
A liderança stalinista do PCF se orgulhou do papel desempenhado na defesa da sociedade burguesa na França.
E, garantindo as eleições parlamentares, os gaullistas foram capazes de aumentar sua maioria, controlando 358 das 487 cadeiras. A influência do PCF nas fábricas diminuiu, uma vez que grande parte dos trabalhadores virou as costas para seu partido. Fazendo assim, o desfecho do movimento estudantil e grevista francês.


Patrícia Torricilia

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