terça-feira, 8 de julho de 2008

Tropicalismo

Tropicalismo foi um movimento que resultou em uma síntese assistemática de alguns elementos da brasilidade, em sintonia com as manifestações estéticas e culturais do final dos anos 60. A “geração tropicalista” pode ser considerada aquela estudiosa ou conhecedora do modo de vida em nossos trópicos. Ela é a nossa “geração 68”.
Incorpora não só os que aqui beberam desse “caldo de cultura” – como uma estratégia de sobrevivência, após o golpe militar de 1964 até a primeira vitória eleitoral da oposição em 1974 –, mas também os exilados nos “anos de chumbo”. A partir de então, houve a retomada das lutas, nas ruas, pela anistia e redemocratização. Mas a “geração 477” – decreto do regime militar que tentava amordaçar o movimento estudantil –, a sua maneira, já tinha realizado uma revolução cultural, na micro física do poder, com “paz e amor”.
Essa geração entendeu que os participantes de movimentos sociais – sindicais, estudantis, eclesiásticos, ambientalistas, feministas, anti-racistas, homossexuais, entre outros –juntamente com intelectuais e artistas independentes, poderiam se tornar “companheiros”, na criação de um partido político a partir dessas bases. Este partido alcançou a maioridade: encabeça uma aliança política que ganhou a eleição presidencial.
A realidade brasileira impôs a essa “geração tropicalista” a necessidade de uma longa e ampla disputa para alcançar a hegemonia cultural e o consenso social, antes da vitória eleitoral. No âmbito da sociedade civil organizada, ela buscou ganhar aliados para suas posições, através da direção e do consenso. A conquista do poder estatal, em um regime democrático, exigiu dela conseguir convencer a maioria dos eleitores a respeito de suas condições de controlar o poder soberano – o monopólio da violência repressiva contra o crime e o monopólio da emissão monetária –, respeitando os valores universais republicanos: a igualdade, a fraternidade, a liberdade.
Sua ideologia é, predominantemente, a da esquerda. O aparente conservadorismo dela, recentemente, contra algumas reformas neo-liberais, pode ser entendido como uma reação à tentativa de fazer a história retroceder. O neo-liberalismo tupiniquim investiu com fúria, buscando a destruição de conquistas sociais anteriores.
Eles adotaram um critério, para a diferenciação. Os homens, por um lado, são todos iguais entre si; por outro, cada indivíduo é diferente dos demais. Os que consideram mais importante, para a boa convivência humana, aquilo comum que os une, em uma coletividade, votaram na esquerda. Os que achavam relevante, para a melhor convivência, a diversidade e a competição, votaram na direita. O que definiu essa posição de direita foi a idéia de que a vida em sociedade reproduz a vida natural, com sua violência, hierarquia e eficiência. Para a direita, se os homens são seres biológicos desiguais, devem submeter-se à “lei do darwinismo social”; só os “preparados” merecem chances... A direita adotou o “discurso da competência”. Não houve candidato que se apresentou como fosse de direita; mas houve os que falaram como a direita e recuperaram seus valores...
Portanto, alcançar o poder do Estado, para essa geração tropicalista de esquerda, simboliza uma ampla mudança cultural e ideológica, no Brasil. Cairá a hegemonia do individualismo, da desregulamentação, do “salve-se quem puder”, do “quem não é competente que não se estabeleça”. Venceu a esperança de ascenderem, na sociedade brasileira, valores coletivos, solidários, comunitários.
Um dos maiores exemplos do movimento tropicalista foi uma das músicas que foi denominada exatamente de "Tropicália":
"Sobre a cabeça, os aviões,sob os meus pés, os caminhões,
Aponta contra os chapadões, meu nariz.
Eu organizo um movimento,
Eu oriento o carnaval,
Eu inauguro um monumento,
No planalto central do país..."


Patricia Torricilia

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