terça-feira, 8 de julho de 2008

Rebelião Inesperada

Três meses antes do levante dos estudantes e trabalhadores parisienses, no Rio de Janeiro, dia 28 de março de 1968, Edson Luís, um secundarista carioca, foi morto numa operação policial de repressão a um protesto em frente ao restaurante universitário “Calabouço”. Isso acarretou em uma comoção nacional e em seu enterro 50 mil pessoas compareceram inclusive intelectuais e artistas.A partir daí o Brasil entrou nos dez meses mais tensos e convulsionados da história do pós-guerra. A insatisfação dos universitários com o Regime Militar de 1964 ganhou integrantes como escritores e pessoas do teatro e do cinema perseguidos pela censura. As principais capitais do país, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, em pouco tempo se tornaram palco de guerra onde estudantes e policiais se enfrentavam praticamente todos os dias. Nesse momento, a cada ação repressora, a juventude mais se bandiava para a oposição e eles enfrentavam o regime, pois os líderes civis da Frente Ampla (Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart, que estava exilado) haviam sido cassados.
Em 26 de junho daquele ano 100 mil pessoas – a Passeata dos Cem Mil – marcharam pelas tuas do Rio de Janeiro exigindo a diminuição da repressão, o fim da censura e a redemocratização do país. Porém, houve uma novidade, a presença de padres e freiras, que aderiram aos protestos. A juventude da época dividiu-se entre os “conscientes”, nos politizados que participavam das passeatas e dos protestos, e os “alienados” que não se interessavam pelas ideologias ou pela política.
Em apoio ao regime, surgiu o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) de extrema direita, o qual se especializou em atacar peças de teatro e em espancar atores e músicos considerados subversivos.
Mas, em outubro, ao organizar clandestinamente o 30º congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), o movimento estudantil praticamente se suicidou. Descobertos em Ibiúna, litoral de São Paulo, 1200 revoltosos foram presos. A liderança inteira, dentre eles Vladimir Palmeira, caiu nas mãos da polícia numa só operação. Como coroamento do desastre, o regime militar, sob chefia do general Costa e Silva, decretou em 13 de dezembro, o AI-5 (Ato Institucional nº5).Fechou-se o congresso, milhares de oposicionistas foram presos e as liberdades civis ainda restantes foram suprimidas. A partir de então, muitos jovens aderiram a luta armada, filiando-se em organizações clandestinas tais como a ALN (Ação de Libertação Nacional), a VAR-Palmares ou dezenas de outras restantes.
Tais organizações foram tardiamente reprimidas pelos militares por volta de 1972, fazendo com que os sobreviventes se exilassem ou fossem condenados a longas penas de prisão.
Podemos dizer, portanto, que a rebelião estudantil precipitou a abolição das liberdades marcando a transição do Regime Militar para a ditadura militas, mas por outro lado, anunciou o futuro Movimento das Diretas-já, de 1984, que pôs fim aos 20 anos de autoritarismo brasileiro.


Patrícia Torricilia

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